Establecido em 2022 a partir de uma informal experiência entre quatro violinistas, o coletivo Hedera 4tet é um quarteto composto pelos músicos Carlos Zíngaro, Bernardo Aguiar, David Magalhães Alves e Francisco Lima da Silva.
Aliam-se neste grupo duas gerações distintas, estabelecendo-se pontes intergeracionais não que ligam mas que se alimentam e definem mutuamente, linhas que identificam e que são transpostas. Percursos e passados próprios que comunicam entre si, não apenas num sentido finito de um “passar da tocha”, mas sim para partilhar a chama, com outros fogos, que se perpetuam, renovam e enriquecem entre si.
Confrontam-se as memórias de uma aprendizagem base comum a todos, com as estéticas individuais próprias, contrastando de forma intensa os seus modos de fazer e as suas abrangentes experiências profissionais e pessoais. Quais são os possíveis relacionamentos que se estabelecem? Que novos enquadramentos sonoros se impõem e quais são permitidos impor?
O trabalho é desenvolvido a partir da articulação das diferentes experiências individuais e colectivas, que pretende solicitar e possibilitar aos músicos o atravessar de fronteiras geracionais, disciplinares e académicas, seja ao nível da sensibilidade como ao nível do processo de trabalho.
Enfrenta-se a música electroacústica a partir de outras formas de escrita, de pensamento e de estrutura. Cria-se, no embate entre métodos acústicos e tecnologias de alteração e difusão acústica, o seu foco sonoro maior, confrontando conceitos, estéticas, técnicas, tecnologias e gerações, de forma autónoma e independente de "escolas", de grupos de pressão mercantil e determinismos do gosto instituído.
Este quarteto pretende um explorar da noção de que a música expressa muito mais do que os seus próprios sons. Esta remete o sonho ao real, exprimindo a vontade permanente do ser humano de mostrar, de esconder, de identificar, de ser e de fazer. Para este coletivo a música pretende-se enquanto a intelectualização do som, almejando uma codificação súbita deste, estruturando-se numa representação global das relações objectivas (técnica/performance) e subjectivas (imaginação/criação).
Entende-se uma outra forma “camerística” de expressivas e próximas intimidades, que se sobrepõem, que se digladiam, que estabelecem diálogos improváveis, logo seguidos de edificações harmonicamente comunicativas.
Procura-se o usufruto de modernas técnicas de tratamento sonoro e do sampling em tempo real enquanto elementos composicionais estruturantes e/ou desruptivos, a partir dos quais é possível engendrar, combinar, estruturar, aliterar, mascarar, transmutar os sons tocados e reproduzi-los já trasformados em tempo real. Uma linha melódica, enganadoramente idiomática, é surpreendentemente contrastada por técnicas extensivas e correspondentes parasitagens dos restantes instrumentos/tratamentos, construindo um todo de grande significado e beleza.
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Bernardo Aguiar (1995) começou os seus estudos de violino aos cinco anos, com a professora Inês Saraiva, no Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa. Em 2017 terminou a licenciatura em Madrid, sob a tutela do professor Sergey Teslya, como aluno bolseiro do Centro Superior Katarina Gurska. Em 2020 concluiu o Master of Music na universidade ArtEZ em Zwolle (Holanda), na classe da professora Sarah Kapustin. Ao longo da sua formação aprendeu também com músicos tais como César Viana, David del Puerto ou Noélia Rodiles. Em Portugal atuou nas principais salas nacionais tais como o Centro Cultural de Belém, o Teatro Municipal São Luiz, o Teatro Nacional São Carlos e a Casa da Música. Em Espanha deu concertos nas maiores cidades do país, tais como Madrid, Barcelona, Valencia, Sevilla, Bilbao ou León. Tocou também noutros países tais como Estados Unidos da América, Noruega, Itália, França ou Inglaterra. Colaborou com várias das principais orquestras nacionais, tais como a Orquestra Gulbenkian ou a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Foi membro fundador do ensemble Concerto Moderno, criado em 2011 pela violinista Inês Saraiva e pelo maestro César Viana. Enquanto concertino atuou com solistas tais como Iddo Bar-Shai, Natalia Tchitch, Paulo Gaio Lima ou Pavel Gomziakov, e em 2016 tocou por várias vezes como solista junto ao ensemble. Enquanto membro do Trio Ayren ganhou em 2015 o Concurso Permanente de Juventudes Musicales de España na modalidade de música de câmara. Desde então o Trio Ayren tocou nas principais salas de Espanha. Colaborou frequentemente com The Flying Gorillas, um coletivo de artistas sediado em Londres que procura aproximar a música e dança a pessoas que não têm acesso fácil a tais formas de arte. Este projeto levou-o até países como a Índia, Roménia, Turquia, Itália ou Alemanha, trabalhando regularmente com refugiados. É membro fundador do coletivo Gnu Vai Nu e do projeto Everysound.
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Carlos “Zingaro” (1948) Músico, Compositor e Artista visual premiado, com uma carreira internacionalmente reconhecida de mais de 60 anos. Começa o seu percurso enquanto aluno de Violino no Conservatório Nacional de Lisboa em 1953. Desenvolveu extensa prática nas artes experimentais, com colaborações regulares com os maiores nomes da “nova música” (como Barre Phillips, Daunik Lazro, Derek Bailey, Joëlle Léandre, Kent Carter, Ned Rothenberg, Peter Kowald, Roger Turner, Rüdiger Carl, Evan Parker, Andres Bosshard, Jean-marc Montera, Paul Lovens, Anthony Braxton, Roscoe Mitchell, George Lewis, Leo Smith, Tom Cora, Richard Teitelbaum, entre outros). Presença frequente em importantes festivais internacionais, foi pioneiro na utilização das novas tecnologias na composição e interacção em tempo real. Introduziu novas práticas na relação som/movimento e composição imediata, no seu trabalho como compositor de cena em Portugal, trabalhando com os principais encenadores e coreógrafos nacionais. Em 1976 completou o curso superior de cenografia e figurinos da Escola Superior de Teatro, sendo nomeado professor de Desenho; Com bolsa da F. C. Gulbenkian foi residente na escola politécnica de Wroclaw na Polónia nos primeiros encontros internacionais de “teatro música” dirigidos por Richard Misiek em 1978; Em 1979 ganha uma bolsa Fulbright e é residente na Creative Music Foundation - Woodstock em Nova York, dirigida por Karl Berger, sendo nomeado professor assistente de “New Notation Concepts” e “The inter-relationship of Improvisation”. Funda e dirige a Galeria de arte Os Cómicos entre 1984-90; Em 2010 é-lhe atribuída uma Fellowship na Civitella Ranieri Foundation em Itália; Foi fundador, membro e coordenador de várias estruturas seminais nas artes em Portugal e no estrangeiro, como o grupo Plexus [1967], European Jazz Federation [1973], Cómicos Grupo de Teatro [1974], Granular Associação [2002], entre outros. A sua discografia tem mais de 60 títulos internacionalmente editados.
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David Magalhães Alves (1992) é Artista visual e Músico residente em Lisboa. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa em 2016, tem trabalhado de forma independente em projetos multidisciplinares e exibido obras em várias exposições colectivas. Enquanto músico completou em 2008 o 5o ano do Nível Médio na especialidade de Violino do Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa; entre 2003 e 2010 participou em vários estágios, workshops e festivais a nível nacional e internacional; em 2013 fez parte da Classe 8º ano do Curso Complementar de Violino da Escola de Música do Colégio Moderno; foi membro fundador e Concertino da orquestra da Universidade de Lisboa em 2014; foi membro fundador da orquestra “Concerto Moderno”, participando nas temporadas de concertos entre 2011 e 2017, em diversas salas de concerto e festivais (tais como Teatro S. Luiz, Teatro Nacional S. Carlos, Festival Terras Sem Sombra, Real Sitio de San Idelfonso, Palácio Nacional da Ajuda). Tem ao longo da sua carreira colaborado com projetos de diferentes tipologias, tocando com músicos internacionalmente reconhecidos, (Gwendolyn Masin; Aníbal Lima; Carlos Zíngaro; Pavel Gomziakov; Natalia Tchitch; Iddo Bar-Shai; Carla Caramujo; Daniel Garlitsky; Phill Niblock, Tiago Bettencourt, entre outros). Entre 2017-20 foi colaborador regular dos serviços Educativo e de Comunicação do Museu Oriente. Actualmente mantém actividade enquanto artista visual independente, integra a equipa do projecto Everysound desde 2019; é membro fundador do colectivo multimédia GNU VAI NU; e faz parte do quarteto de cordas ZARM Ensamble, com apresentações no festival MIA de Atouguia da Baleia (2019); Faroeste EMCII, Caldas da Rainha (2021); Culturgest (2022); Ciclo de Polinização de Paredes de Coura (2022); participando no projecto “Renova” liderado pelo Músico Carlos Zíngaro e a Coreógrafa Paula Pinto, vencedor das Renova Art Commissions (RAC) 2021 com curadoria de Martim Sousa Tavares.
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Francisco Lima da Silva (1992) é compositor e violinista. Iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música da Metropolitana na classe de violino da professora Inês Saraiva. Licenciou-se como instrumentista de orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra na classe de violino do professor Aníbal Lima. Teve oportunidade de tocar pelas principais salas nacionais com a Orquestra Metropolitana de Lisboa e Concerto Moderno, trabalhando com vários maestros, tais como, Jean-Marc Burfin, Pedro Neves, Emilio Pomàrico, Michael Zilm, Pedro Amaral e César Viana. Começou a estudar composição com César Viana e David del Puerto, em Madrid. Em 2019, foi aceite na Cardiff University, onde finalizou o MA in Arts em composição com distinção, tendo aulas com Pedro Faria Gomes, Arlene Sierra e Robert Fokkens. Atualmente é doutorando na mesma instituição com a supervisão de Pedro Faria Gomes e Nicholas Jones. Encontra-se também a frequentar a pós-graduação em Composição Aplicada na Escola Superior de Música de Lisboa com os professores Luís Náon, Michele Tadini, Rut Schereiner e Alex White. Já teve oportunidade de colaborar com diversos agrupamentos, tais como a Orquestra Académica Metropolitana, Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, Riot Ensemble, Trio Oberon, Ensemble MPMP, Ópera do Castelo, Ensemble Darcos e Orquestra Metropolitana de Lisboa. A sua peça ‘Derealisation’ foi selecionada para o ‘Compositon Wales 2021’ e foi interpretada pela BBC National Orchestra of Wales sob a direcção do maestro Ryan Bancroft. No 14o Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim venceu o primeiro prémio e o prémio do público com a peça ‘Sonho Lúcido’. Escreveu a peça ‘Nostalgia’ para viola solo, uma encomenda da Antena 2/RTP, para a 35a Edição do PJM. Tem também trabalhado como orquestrador e arranjador, destacando-se a recorrente colaboração com o festival Operafest Lisboa. É membro fundador do projecto Everysound e do colectivo de música electrónica Gnu Vai Nu.